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Cancelamento do júri do caso Rafael gera decepção e prejuízos em Planalto

Cancelamento do júri do caso Rafael gera decepção e prejuízos em Planalto

O dia seguinte ao cancelamento do júri do caso Rafael foi um misto de decepção e revolta por parte da população. A expectativa da comunidade de pouco mais de dez mil habitantes do município de Planalto, no norte do Estado, era que a tragédia tivesse um ponto final na decisão que deveria ser emitida no julgamento, fosse ela qual fosse. “Esperávamos que houvesse esse desfecho depois de quase dois anos. Essa sensação de revolta não é só minha, mas de todas as pessoas aqui”, afirma a conselheira tutelar Denise Vojniek, 44, primeira pessoa a ser procurada por Alexandra Dougokenski na época do crime.

Denise enfatiza que as pessoas no município passaram a evitar falar sobre o caso e que o assunto era tema mais recorrente quando próximo do fato. “Depois deu uma acalmada, como em todas as situações que envolvem tragédias. O júri trouxe tudo de volta para a comunidade”, analisa. A pensionista e comerciante Marinês Giacobbo Trevizan, 57, que passava em frente ao Instituto Estadual de Educação Padre Vitório, onde estudava Rafael Winques e uma faixa na entrada clama por justiça, tem uma opinião sobre as pessoas evitarem fala. “Aqui no nosso município as pessoas temem falar algo e sofrer represálias. No momento que se mexeu nisso voltou à tona tudo”, disse.

Sobre o cancelamento do julgamento, ainda sem uma nova data para acontecer, Marinês diz ter perdido a confiança no Judiciário. “Particularmente foi muito vergonhoso. Tínhamos esperança na justiça pelo Rafael. Nós perdemos a credibilidade na Justiça, diz. Sobre o crime em si, a moradora de Planalto acredita na culpa da ré. “Jamais imaginei que alguém fosse capaz de fazer uma coisa dessas. Também sou mãe. No momento que a pessoa confessa, não tem o que rever”, analisou.

A conselheira tutelar Denise diz que o crime ainda causa incredulidade na população da cidade. “Há pessoas que até hoje não acreditam que essa mãe tenha feito isso, porém não há outro argumento”, afirma, junto a um mural pintado na parede da sede do Conselho Tutelar em homenagem ao menino.

Investimento frustrado

Além de protelar o júri, o abandono da defesa de Alexandra da sessão, também trouxe prejuízos financeiros não só ao Tribunal de Justiça, que diz ter despendido mais de R$ 160 mil com a operação, aos comerciantes locais. “Acho uma falta de consideração com a população. Além do investimento público, que sai do nosso bolso, muitas pessoas deixaram suas casas e seus afazeres, como, por exemplo, os jurados. Não tem lógica aparecer com uma prova de última hora, virar as costas e ir embora”, analisa o empresário Altair da Silva, 43.

"“Acho uma falta de consideração com a população", disse empresário Altair da Silva

O sobrinho de Altair é motorista de ônibus e também responsável pelo restaurante que fica no segundo piso da sede do Independente Futebol Clube, onde aconteceria o julgamento. “Meu sobrinho contratou outra pessoa para fazer o trabalho dele de motorista e se preparou para receber no restaurante as pessoas de fora. Ele comprou um novo buffet e uma nova chapa. São coisas que ele vai ter que tentar devolver e muitos não vão aceitar”, diz. Ele acredita em um investimento de cerca e R$ 6 mil que prejudicará o orçamento. Assim como ele, outros comerciantes, principalmente da área de restaurantes, investiram esperando um alto fluxo de pessoas ao longo da semana.

Com uma empresa de painéis solares funcionando no mesmo prédio do clube, ele acompanhou toda a preparação para o júri. “Essa movimentação começou há pouco mais de dez dias atrás. Acompanhamos tudo e para a gente foi meio espantoso. Nunca vimos tanta gente. Foi muito chocante ser adiado esse júri. É um absurdo”, enfatiza.

Embora a confirmação de uma nova data dependa da juíza do caso, integrantes da acusação e da defesa da ré acreditam que um novo júri não deva acontecer antes de 90 dias.





Autor: Rádio Comunidade

Data da Postagem: 22/03/2022 16:14:00

Fonte: Felipe Nabinger /Foto: Mauro Schaefer